Artigo Científico
UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL: IDADISMO DENTRO DA MEDICINA - Volume 3. Número 1. 2023 e-ISSN 2764-4006 DOI 1055703 

UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL: IDADISMO DENTRO DA MEDICINA

Maria Eduarda Olivare 1, Egídio Dórea 2, Fábio De Castro Martins Filho3 e Mateus Pereira Araújo4

Endereço correspondente: eduarda_olivare@hotmail.com

Submissão: 19 de Abril, 2023 – Modificação:  04 de Maio, 2023 – Aceito: 29 de Junho, 2023 

DOI: https://doi.org/10.55703/27644006030102

 

RESUMO

As instituições médicas precisam adequar-se à transformação do processo de envelhecimento. O objetivo é determinar a prevalência do idadismo no meio acadêmico médico da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, observar se há uma mudança dele ao longo dos anos de formação e planejar medidas de conscientização. A metodologia foi uma análise qualiquantitativa. 94.6% consideraram verdadeira a existência do idadismo, 98% identificaram corretamente este conceito. Um importante dado, consiste na unanimidade de que cada idoso seja diferente, uma maioria acharem que a má saúde não é inevitável e que a família não é a única responsável pelo cuidado. A grande maioria considera o combate do idadismo, sendo necessário a inserção de um tópico específico para educação geriátrica dentro da formação. Assim, sugere-se a possibilidade de intervenções educativas com o intuito de mudar e melhorar a qualidade do atendimento ao paciente idoso desde a formação acadêmica, diminuindo-se assim práticas preconceituosas.

Palavras-chave: Idadismo. Estereótipos. Educação geriátrica.

 

INTRODUÇÃO

No cenário atual, é notável o significativo aumento na proporção de idosos no mundo. Com o aumento na expectativa de vida, surgem novos desafios para essas pessoas e suas famílias, desafios socioeconômicos com impacto global. (1)(2) A idade cronológica, assim como outras construções sociais, é uma das dimensões pelas quais se categoriza, de forma automática, as demais pessoas. Tais categorizações, ou estereótipos, que existem sobre as pessoas mais velhas associadas ao desenvolvimento de novas metas e objetivos, tem relação com a ideia de que nesta fase do ciclo de vida esses interesses diminuem. Isso faz com que a sociedade enxergue o envelhecimento como uma condição desfavorável, gerando exclusão, discriminação e preconceitos contra esse grupo etário. (3)(4)

Estereótipos apresentam-se ao visualizar uma pessoa mais velha, e considerar conhecer suas competências, crenças e atitudes. Qualquer atitude diferente, prejudicial, ações, comportamentos e arranjos constitucionais contra ou a favor de um indivíduo ou grupo de pessoas com base na idade, constitui um processo que contribui com a percepção frequente de pessoas mais velhas serem consideradas como doentes, solitárias, irritáveis, incompetentes, dependentes, entre outras características. Esse processo é denominado idadismo, e é definido como uma estereotipagem sistemática e de discriminação contra as pessoas por terem idade avançada, podendo ser consciente e inconsciente. (3)(5)(6)

O idadismo não é um fenômeno exclusivo de um país. Muitas sociedades orientais associam o processo de envelhecimento com sabedoria, tolerância e experiência, enquanto sociedades ocidentais, e alguns países africanos, associam idosos à indivíduos doentes, conservadores e céticos. (2) É importante ressaltar que o preconceito pode se distinguir do estereotipo, pela presença da discriminação, uma vez que alguns países possuem uma maior prevalência de estereótipos do que preconceito com os idosos.(2)(3) No Brasil, esse cenário se inverte. A taxa de preconceito é superior ao estereótipo. E este pode ser observado no sistema de saúde, nas famílias, no mercado de trabalho, nos órgãos governamentais, e principalmente nas universidades, onde cada vez mais observa-se a inserção do idoso no mundo acadêmico. (4)(7)(8)

O modo como a sociedade em geral, os profissionais e serviços da saúde proporcionam serviços e práticas para os pacientes mais idosos, é impactado diretamente pelos estereótipos do envelhecimento. Equívocos sobre o avançar da idade e atitudes negativas podem prejudicar o comportamento em relação aos idosos, acarretando más condutas, falhas de comunicação e déficit na qualidade e eficácia de serviços de saúde prestados. (1)(9)(10)

Uma descrição de pessoa mais velha com base principalmente em características negativas promove o desempenho de práticas profissionais discriminatórias diretas e indiretas. O estabelecimento dessas ações pejorativas se dá, por exemplo, ao excluir ou definir limites de idade para justificar a tomada de decisões para detecção precoce de doenças (diagnósticos constantes de demência); através da tendência de receber diferentes tratamentos farmacológicos; menor comunicação do médico com o paciente idoso (até mesmo deixando-o de lado para conversar com os familiares); e até mesmo o cuidado limitado prestado aos idosos com problemas psicológicos (considera-se uma tendência do envelhecimento ao humor depressivo e solidão). (3)(6)(8)(9) Tais situações levam a população idosa a não aderir a tratamentos, não retornar aos serviços de saúde e com isso tem seu bem-estar prejudicado (8)

O idadismo no âmbito acadêmico médico está presente na percepção que os alunos possuem sobre o envelhecimento, que é influenciada pela própria idade, extensão e qualidade do envolvimento com idosos, conhecimento e atitudes que possuem em relação a esse processo.(7) As atitudes dos universitários poderão influenciar diretamente na qualidade e quantidade de cuidados que os idosos terão no futuro. A tendência de atribuir de forma depreciativa vários problemas à idade ao invés de tratá-los, é um dos maiores desafios das instituições de ensino superior. (3)(5)

OBJETIVOS

Os objetivos deste estudo são: averiguar a prevalência do Idadismo no meio acadêmico médico e se há uma mudança de pensamento ao longo dos anos da formação médica da Universidade Municipal de São Caetano do Sul; verificar qual o conhecimento sobre do Idadismo; avaliar se o contato com o meio geriátrico influencia a postura diante do idoso; disseminar informações sobre o assunto na população acadêmica para que não propaguem práticas preconceituosas.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Realizada uma pesquisa de análise qualiquantitativa com o intuito de averiguar abrangência de conhecimento a respeito do Idadismo, na qual os acadêmicos de medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) foram convidados a responder um questionário da USP 60+, a universidade aberta à terceira idade da USP, escrito pelo Doutor Egídio Dórea em 2019. Foi desenvolvido um estudo descritivo e transversal dos dados através dos seguintes critérios estatísticos: idade, semestre, raça/etnia, sexo e renda mensal. A partir desses, em conjunto com as respectivas perguntas a respeito do Idadismo, os resultados foram compilados em gráficos e tabelas.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Foram obtidas 112 respostas, onde 111 estudantes concordaram com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e aceitaram participar da pesquisa. O trabalho contou com a participação de estudantes do curso de medicina do 1º ao 12º período, numa faixa etária entre 17-46 anos, com maior presença de jovens entre 23-24 anos. A maior parte é de cor (raça/etnia) branca (86.5%) e com mais de 10 anos de escolaridade (96.4%).

A respeito do idadismo, 94.6 % dos estudantes consideram verdadeira a existência do preconceito pela idade. Para 98% dos alunos, o idadismo constitui um processo que significa ter atitudes negativas e/ou discriminar alguém pela sua idade, enquanto 87.4% acharam que a forma como encaramos o envelhecimento tem influência direta no próprio processo de saúde.

Com relação a presenciar a ocorrência do idadismo, 82% dos estudantes relataram já terem visto alguma situação, considerando o desrespeito a manifestação mais prevalente de preconceito (37.8%) e que o local em que mais existe é no trabalho (59.5%), seguido de rede sociais (17,1%) e reuniões sociais (11,7%), além disso, 28,8% associaram o início do preconceito a partir dos 60 anos. Em contrapartida, 56.8% nunca praticaram um ato ou pensamento preconceituoso com pessoas mais velhas, mesmo que uma maioria (64.9%) tenha afirmado poder ser preconceituosas inconscientemente.

Figura 1 – Quais os tipos de preconceito pela Idade (Idadismo) que você já sofreu ou presenciou?

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 2 – Para você a partir de qual idade a pessoa começa a sofrer preconceito pela idade? 

Fonte: Acervo pessoal.

Um importante dado obtido, consiste na totalidade dos estudantes não considerarem todo idoso igual, que características como experiência e sabedoria são as mais associadas quando se pensam em uma pessoa mais velha. 95.5% acham que uma má saúde não é inevitável no idoso, que o envelhecimento não é um obstáculo para a vida, que pode sim ser superado e que a família não é a única responsável pelo cuidado, uma vez que 97.3% consideraram que o idoso não é dependente em sua totalidade e que investir em indivíduos mais velhos seja válido. Para 55.9% dos estudantes a aposentadoria mandatória do idoso não ajuda a criar empregos para os mais jovens, muito menos que essa população seja sorvedouro para a economia, incluindo sistemas de saúde.

Figura 3 – Para você a partir de qual idade a pessoa começa a sofrer preconceito pela idade? 

Fonte: Acervo pessoal

A grande maioria (97.3%) considerou que podemos combater o idadismo, sendo necessário a inserção de um tópico específico para a educação geriátrica dentro da escola de medicina, uma vez que 90.1% acreditam existir tal processo dentro das escolas médicas e que há necessidade de disseminar informação sobre o que é o idadismo dentro da faculdade de medicina.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos resultados permite concluir que a maioria dos estudantes acredita existir preconceito pela idade, mesmo dentro das escolas de medicina, que com o passar dos anos dentro do curso médico ocorre um maior contato com o paciente idoso confirmando a necessidade de exclusão de práticas preconceituosas e propagação de informações para que o preconceito de idade não interfira na qualidade de saúde do idoso. Portanto, sugere-se a possibilidade da realização de intervenções educativas com o intuito de mudar e melhorar a qualidade do atendimento ao paciente idoso desde a formação acadêmica médica, diminuindo-se assim práticas preconceituosas.

Mesmo que os estudantes tenham consciência acerca da existência do Idadismo (94.6%), ainda sim se faz necessário obter informações e conhecimento sobre o respectivo assunto, pois mesmo sabendo o que é o preconceito de idade, cerca de 43,2% já praticou ou teve algum pensamento preconceituoso com uma pessoa que considerou mais velha, previamente ou durante os anos de curso médico. Esses dados permitem inferir que o conhecimento a respeito do Idadismo ainda é escasso, mesmo os pesquisados afirmando possuir conhecimento prévio sobre o assunto. Ou seja, se faz necessário quebrar certos estereótipos do envelhecimento para que a conduta médica, comunicação efetiva com o paciente idoso e qualidade e eficácia do serviço de saúde sejam prevalentes e constantemente melhoradas, tendo em vista que o aumento da expectativa de vida é um fator mundial.

A inserção de um tópico específico para a educação geriátrica, assim como a disseminação da informação sobre o que é o Idadismo, dentro das faculdades de medicina, mostram-se como as principais ferramentas para o combate do preconceito pela idade, uma vez que quanto mais conhecimento acerca do assunto, maior a compreensão do processo de envelhecimento e consequente redução de estereótipos e categorizações a respeito do idoso. Dessa forma, uma maior qualidade no serviço de saúde pode ser proporcionada ao indivíduo independente de sua idade.

 

REFERÊNCIAS

1- MSN, Ebru Ozturk Copur; AKYAR, Imatullah. Ageism attitude towards elderly: Young perspective. International Journal of Caring Sciences, v. 10, n. 2, p. 819, 2017.

2- DONIZZETTI, Anna Rosa. Ageism in an aging society: The role of knowledge, anxiety about aging, and stereotypes in young people and adults. International journal of environmental research and public health, v. 16, n. 8, p. 1329, 2019.

3- GUTIÉRREZ, Margarita et al. La discriminación por edad: un estudio comparativo entre estudiantes universitarios. Acta Colombiana de Psicología, Vol. 22 no. 2 (jul.-dic. 2019); p. 53-69, 2019.

4- DOS SANTOS,       Rômulo           José     Barboza           et                PROJETO CONVIVÊNCIA INTERGERACIONAL NA UNIVERSIDADE DE CRUZ ALTA: RESULTADOS DA ESCALA FRABONI DE IDADISMO. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, v. 17, n. 2, 2020.

5- COONEY, Cassandra; MINAHAN, Jillian; SIEDLECKI, Karen L. Do feelings and knowledge about aging predict ageism? Journal of Applied Gerontology, v. 40, n. 1, p. 28-37, 2021.

6- Lee J, Yu H, Cho HH, Kim M, Yang S. Ageism between Medical and Preliminary Medical Persons in Korea. Ann Geriatr Med Res. 2020 Mar;24(1):41-49. doi: 10.4235/agmr.19.0043. Epub 2020 Mar 31. PMID: 32743321; PMCID: PMC7370780.

7- COTTLE, Nate R.; GLOVER, Rebecca J. Combatendo o envelhecimento: Mudança no conhecimento e nas atitudes dos alunos em relação ao envelhecimento. Gerontologia educacional, v. 33, n. 6, pág. 501-512, 2007.

8- ROGERS, Stephanie E. et al. Discrimination in healthcare settings is associated with disability in older adults: health and retirement study, 2008–2012. Journal of General Internal Medicine, v. 30, n. 10, p. 1413-1420, 2015.

9- SENGER, Emily. Ageism in medicine a pressing problem. 2019.

10- Fukase, Y., Kamide, N., Murayama, N. et al. The influence of ageism on stereotypical attitudes among allied health students in Japan: a group comparison design. BMC Med Educ 21, 27 (2021). https://doi.org/10.1186/s12909-020-02439-0.

 

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