SUTURA AUTO-TRAVANTE DE DAHER-CONTRERAS
Marcelo Daher1, Álvaro Daher2, Edgar Contreras3, Rawlson de Thuin4
Endereço correspondente: plasticamarcelodaher@gmail.com
Publicação: 30/12/2023
RESUMO
Sutura usada na plicatura da aponeurose que envolve os músculos retos abdominais de forma a obter a aproximação dos bordos dos mesmos para a cura da diástase abdominal. É uma sutura contínua do tipo Chuleio, que usa uma técnica auto-travante de modo a não precisar que o auxiliar segure o fio para dar o nó de finalização da sutura.Tem extrema segurança, praticidade e robustez. Pode ser usada em várias outras operações que utilizem plicaturas aponeuróticas, não só na parietoplastia abdominal.
Palavras-chave: suturas; técnicas de sutura; abdominoplastia; diástase muscular; herniorrafia.
INTRODUÇÃO
A plicatura da parede abdominal, visando a aproximação dos retos abdominais para cura da diástase dos retos, a muito deixou de ser feita pelo método “Jaquetão” (Spadafora(1), Pitanguy(2)), sendo que hoje a maioria dos cirurgiões se contenta apenas com a plicatura pura e simples da própria aponeurose dos bordos dos retos, aproximando bordo a bordo os músculos na linha alba.
A Sutura Auto-travante de Daher-Contreras é uma evolução dentre as suturas utilizadas com esse objetivo.
OBJETIVO
Apresentar uma sutura usada geralmente na parietoplastia abdominal que traz vantagens por ser rápida, resistente, segura e auto-travante, dispensando o concurso do auxiliar.
MÉTODO
Obter uma plicatura segura e ao mesmo tempo uma tensão razoável da aponeurose é o desejo de todos os cirurgiões, que geralmente fazem pontos separados, pontos corridos simples ou corridos interrompidos(3) que inspiram mais confiança.
Após a realização de um número considerável de abdominoplastias com parietoplastias, foi idealizado uma sutura que ao mesmo tempo é contínua (tipo chuleio(4,5)) e interrompida com a característica de ser auto-travante (quando dado o nó, o fio não desliza mais mesmo sem o concurso do auxiliar), ou seja, dispensa a participação do auxiliar com a atitude de morder o ponto para ser dado segundo ponto.
A sutura é usada com três ou cinco passadas que tem se mostrado mais rápido e seguro, podendo intercalá-las com suturas de duas passadas para uma maior segurança ainda (Figura 1). Além da praticidade e agilidade na consecução da sutura, evitamos o trauma do ferro, geralmente porta-agulhas, que ao segurar o nó, pode lesar a integridade do fio, podendo causar futuras falhas na sutura com deiscências. O fio utilizado é Nylon® 1-0.
Figura 1 – Demonstração ilustrativa de satura
a) Pontos com Sertix de Nylon® 1-0 tipo Chuleio em 3 a no máximo 5 passadas, pegando as bordas internas dos retos abdominais; b) A ponta do fio passa por baixo das passadas, terminando contra-lateral a entrada do fio; c) O nó é dado e apertado com duas voltas, pois é auto-travante; d) Duas voltas a mais são dadas como segurança e a sutura está terminada, ficando o nó para baixo.
Essa sutura tem sido usada por 20 anos e difundida entre inúmeros colegas e médicos cirurgiões plásticos ligados ao Serviço, Interclínica-Centroplástica. Realizadas nas últimas 480 abdominoplastias, sem complicações.
RESULTADOS
Figura 2 – Foto trans-operatória da utilização da Sutura Auto-travante de Daher-Contreras na parietoplastia
Trans-operatório, mostrando parietoplastia, com cura cirúrgica da diástase da parede abdominal, usando suturas tipo Daher-Contreras com Nylon® 1-0.
Note que até a área umbilical, a sutura auto-travante já está aplicada e do umbigo para cima, os bordos interno dos retos abdominais estão diastásicos. (Figura 2)
Figura 3 – Pré e pós-operatórios de 6 meses de um caso de de torsoplastia, mama plus abdominoplastia combinados em que foi usada a sutura Daher-Contreras na parietoplastia abdominal
Pré e pós-operatórios de 6 meses de torsoplastia, mama plus abdominoplastia combinados em que foi usada a sutura Daher-Contreras na parietoplastia abdominal.
DISCUSSÃO
Outras suturas podem ser usadas para a cura cirúrgica da diástase dos retos abdominais, como “pontos separados” e suturas em “X”(6), que trazem o inconveniente de um número grande de nós e não são auto-travantes. As suturas “contínuas” (chuleio) ou “contínuas interrompidas” que pelo fato de serem contínuas podem falhar em algum ponto e causar deiscências, com herniações ao longo da plicatura com consequências que deverão ser reparadas cirurgicamente, necessitando outra intervenção. As suturas tipo “Donatti”(7) não são normalmente utilizadas.
O fio Prolene®, muito utilizado nessas referidas suturas, necessita grande números de nós para o travamento. Outro fio também utilizado é o Mersilene®, que frequentemente causa granulomas de corpo estranho.
A Sutura Auto-travante descrita nesse artigo tem a vantagem de ser muito segura, podendo ser interrompida com três a cinco voltas, além disso é auto-travante, isto é não corre “de volta”, e uma outra vantagem de grande importância é que dispensa o auxiliar de prender o fio com o porta agulhas no momento do nó, o que libera suas mãos e evita micro lesões no fio alterando sua resistência.
Também é preciso citar que tem um reduzido número de nós, causando menos reação tecidual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática diária mostra que a Sutura Auto-travante de Daher-Contreras é uma sutura extremamente prática, segura e economizadora de materiais aloplásticos, tempo de cirurgia e de auxiliar, por ser auto-travante dispensando a contenção do nó inicial para os subsequentes, com excelentes resultados a longo prazo e não tendo sido observadas complicações.
REFERÊNCIAS
- Spadafora A, Sanmarco JMT. In: Cirurgia de obesidade, flacidez cutânea, envelhecimento. Buenos Aires: Lopez Líberos. 1974.
- Pitanguy I. Abdominoplastias. O Hospital. 1967;71(1):541-56.
- Suturas: entenda os tipos, indicações, técnicas e mais. 2023. Disponível em: https://www.sanarmed.com/suturas-principios-basicos.
- Os Tipos de Pontos Cirúrgicos (Sututras). 2016. Disponível em: https://enfermagemilustrada.com/os-tipos-de-pontos-cirurgicos-suturas/.
- Victer, F. 11 tipos de sutura que todo médico deve conhecer. PEBMED. 2022.
- Ingracio A. Técnica Cirurgica. Rio Grande do Sul: EDUCS. 2017.
- CIRINO, L M I. Manual de técnica cirúrgica para a graduação. São Paulo: Sarvier, 2003.