
REVISTA CIENTÍFICA IPEDSS: A CIÊNCIA A FAVOR DA SAÚDE E SOCIEDADE
ISSN 2764-4006 Publicação online
DOI 1055703
Volume 1. Número 1.
Petrolina, 2021
RISCO DE QUEDAS EM INDIVÍDUOS COM ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO NO BRASIL
Naiara Kássia Macêdo da Silva Bezerra¹, Elis Fernanda Araújo Lima de Oliveira², Edva Maria de Lima³, Erineide Rodrigues Sousa4 e Lilian Ramine Ramos de Souza Matos5
Endereço correspondente: Naiara Kássia Macêdo da Silva Bezerra – Petrolina, PE – Brazil – E-mail: namasil@hotmail.com
Submissão: 09 de Setembro, 2021 – Modificação: 23 de Setembro, 2021 – Aceito: 28 de Setembro, 2021
DOI: https://doi.org/10.55703/27644006010106
RESUMO
Este estudo buscou revisar os principais instrumentos de avaliação que mensurem o risco de cair em indivíduos com acidente vascular cerebral no Brasil. Trata-se de uma revisão narrativa de literatura com natureza descritiva e abordagem quantitativa, onde o levantamento dos artigos ocorreram entre fevereiro e junho de 2019 nas principais bases de dados em saúde. A busca se limitou aos artigos publicados a partir de 2009, e precisavam conter um instrumento de avaliação para o risco de quedas. Dentre os instrumentos mais utilizados nos estudos citados temos a Escala de Equilíbrio Funcional de Berg e o Timed up & go, além de escalas que avaliam o medo de cair como a Escala Internacional de Eficácia de Quedas, e capacidade funcional como a Medida de Independência Funcional. Com as escalas analisadas constatou-se que os fatores que influenciam causando os riscos de quedas entre os indivíduos de diferentes idades são o medo de cair, problemas cognitivos e diminuição do equilíbrio estático e dinâmico.
Palavras-chave: AVC. Derrame; Risco de cair; Equilíbrio; Avaliação de quedas.
INTRODUÇÃO
O Acidente Vascular Encefálico (AVE) ou comumente chamado de AVC ou derrame corresponde a uma disfunção neurológica de origem isquêmica ou hemorrágica, dentre as principais consequências destacam-se as sequelas motoras, sensitivas e cognitivas interferindo na funcionalidade do paciente, por isso é necessário intervenção imediata e rápido reconhecimento de seus sintomas (1).
Quase 800.000 indivíduos têm um AVE por ano, e estes números podem dobrar à medida que os indivíduos atingem as idades de maior risco para o AVE, cuja faixa etária se encontra acima de 65 anos (2). Figura entre uma das principais causas de mortalidade transformando-se em um sério problema de saúde pública. Dados nacionais, disponíveis pelo DATASUS, revelam 172.298 internações envolvendo pessoas acima de 50 anos, indicando uma incidência anual de 108 casos por 100 mil habitantes (3,4).
Dentre os indivíduos acometidos, 70% tornam-se dependentes de cuidadores para suas atividades funcionais diárias e cerca de 50% são incapazes de deambular independente após o AVE. A maioria desses pacientes são idosos, sendo os fatores de risco para quedas decorrentes do relevante comprometimento físico e de ambientes inadequados (5).
As alterações na marcha após o evento cerebrovascular associadas às reações automáticas inadequadas de proteção no hemicorpo afetado aumentam a prevalência de quedas nos pacientes desprovidos de coordenação motora, com amplitude de movimento articular diminuída, tônus espástico, fraqueza muscular, déficits sensoriais, alterações cognitivas e de equilíbrio corroboram ainda mais para instabilidade e quedas nesses indivíduos (6).
É importante avaliar o paciente no intuito de identificar elementos que possibilitem futuras quedas. Portanto, as quedas podem ser evitadas por meio da fisioterapia no sentido de restabelecer equilíbrio postural a partir de uma avaliação criteriosa por meio de escalas que permitam o diagnóstico do risco de quedas e assim, elaborar uma conduta específica de redução e prevenção nessa população (7).
Sendo assim é imprescindível a intervenção interprofissional no processo de reabilitação para manutenção e recuperação principalmente no que tange a evidenciar novas alternativas para prevenir e evitar possíveis quedas em indivíduos acometidos por um AVE, além dos marcadores mais utilizados para avaliação e identificação de fatores de risco envolvidos, pensando nisso o objetivo do presente estudo é revisar os principais instrumentos de avaliação utilizados para mensurar o risco de quedas em indivíduos com AVE no Brasil.
MÉTODO
Para elaboração desta revisão narrativa realizou-se pesquisa de literaturas científicas entre fevereiro e junho de 2019 nas bases de dados eletrônica da BVS (Biblioteca Virtual de Saúde) pela LILACS (Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde), SCIELO (Scientific Electronic Library Online) além de outras bases eletrônicas da saúde como a PEDro, Pubmed e Cochrane.
Para o levantamento dos dados foram utilizados os artigos encontrados nas bases de dados a partir da estratégia de busca com os seguintes descritores: quedas, AVE, AVC, avaliação de quedas, Brasil de forma isolada e/ou combinada. Quando a base pedia os descritores em outra língua, a respectiva tradução foi utilizada. A busca se limitou aos artigos que foram publicados a partir de 2009.
Os estudos foram considerados elegíveis para inclusão quando dispuserem de alguma abordagem sobre o risco para quedas em pacientes com AVE no Brasil e que avaliem esse risco de cair com a utilização de algum instrumento. Foram incluídos apenas estudos experimentais, de delineamento clínico ou intervencionista e estudos transversais escritos na língua portuguesa, inglesa e espanhola realizados em alguma amostra no Brasil. Não foram incluídos artigos com impossibilidade de acesso gratuito e disponível apenas em formato de resumo ou revisões de literatura, os artigos que falassem sobre risco de quedas, mas não fosse específico para indivíduos com AVE foram excluídos ou que falassem sobre os fatores de risco de quedas, mas sem utilização de algum instrumento avaliativo também foi excluído.
O levantamento dos artigos foi realizado por dois pesquisadores de forma independente segundo os critérios de elegibilidade e quando houvesse divergência entre os mesmos, um terceiro pesquisador avaliou se o artigo era incluído ou não na pesquisa.
Aqueles apresentados em mais de uma base de dados foram contabilizados apenas uma vez. Durante a seleção dos estudos, foi avaliado os títulos e resumos (abstracts), quando o título e o resumo não foram esclarecedores, o artigo foi buscado na íntegra, para não correr o risco de deixar estudos importantes fora da revisão.
A análise dos dados foi feita após apuração dos estudos incluídos na pesquisa, através da estatística descritiva utilizando o software Microsoft Excel versão 2016.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Obteve-se um total de 229 publicações potencialmente elegíveis para estudo nas bases de dados. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão 10 artigos foram selecionados para análise criteriosa de todo o conteúdo do artigo. Após a leitura, 8 artigos foram incluídos no estudo por possuírem abordagem que mensuram o risco de quedas em indivíduos com AVE. Os resultados da seleção dos estudos encontram-se no fluxograma de detalhamento na figura 1.
Figura 1 — Fluxograma de seleção e exclusão dos artigos da pesquisa.

Alterações do equilíbrio são comuns em indivíduos com AVE, e protocolos e instrumentos de avaliação são fundamentais para avaliar e identificar o risco de quedas. Os instrumentos mais utilizados nos estudos citados para classificar os riscos de queda em pacientes com AVE foram a Escala de Equilíbrio Funcional de Berg (EEFB) e o Timed up & go (TUG), além de escalas que avaliam o medo de cair como a Escala Internacional de Eficácia de Quedas (FES-I-BRASIL), e capacidade funcional como a Medida de Independência Funcional (MIF).
O quadro 1 apresenta a análise descritiva dos dados relativos aos resultados das pesquisas nas determinadas bases de dados relatando autor, ano, revista, título, método, instrumentos utilizados e principais resultados obtidos.
Quadro 1 — Análise descritiva de estudos incluídos na revisão.

Conforme Borges et al. idosos acometidos pelo AVE com presença de alterações de equilíbrio estão mais suscetíveis a quedas, podendo estar envolvidos fatores de riscos ambientais em sua etiologia. Assim, o estudo chama a atenção para a importância da tomada de medidas que busquem a prevenção, trazendo assim, mais qualidade de vida para os envolvidos (8).
Ao analisar os estudos da presente revisão constatou-se que a alta prevalência de fatores de riscos guardam relação com alterações fisiológicas graduais e progressivas do envelhecimento, mas também com fatores ambientais, tornando-se fundamental entender as causas desses fatores para uma melhor intervenção nesses pacientes, a fim de que se possa diferenciar suas individualidades.
Outro estudo analisado que utilizou a escala de equilíbrio funcional de Berg (EEFB) ao comparar indivíduos hemiparéticos caidores e não caidores, percebeu que apresentaram semelhanças nos domínios das funções e estruturas físicas sendo, portanto, possível concluir que os fatores ambientais, não analisados outrora, podem estar mais relacionados a risco de quedas nesses indivíduos (9).
Por outro lado, fatores particulares devem ser levados em consideração, como aponta Santos et al. ao avaliarem equilíbrio e o risco de quedas em idosos acometidos por AVE, constatou como fator de risco para quedas uma diminuição do equilíbrio. Estudos têm demonstrado que queixas na diminuição de equilíbrio na população acima de 65 anos pode chegar a 85%, podendo estar associada a diversas etiologias e manifestando-se por sinais e sintomas como tontura, desequilíbrio, desvio de marcha, instabilidade e quedas frequentes, e provavelmente isso se agrave em sequelados por AVE, pelas próprias alterações da lesão a nível motor e sensorial (10).
No estudo de Monteiro et al. foi demonstrado uma alta preocupação com a ocorrência de quedas, no qual indivíduos relataram história de quedas e, afirmaram apresentar moderado ou muito medo de cair durante a realização das atividades diárias, o que traz a compreensão de que o medo de cair está relacionado com a medida da independência funcional e a qualidade de vida de indivíduos com AVE (11).
Nesse contexto, Silva et al. realizaram um estudo com programas de realidade virtual pensando em impactar o medo de cair de indivíduos com AVE, ao utilizarem a escala FES-I-Brasil puderam constatar que apesar da melhoria na tarefa subir/descer escadas, alterações nos demais itens da escala não foram encontradas o que pode representar um efeito relativamente reduzido do programa de imaginação e faz perceber que o risco de quedas está além do domínio motor, mas fatores emocionais como o medo de cair deve ser considerado (13).
Técnicas que promovam a estabilidade postural para diminuir o risco de quedas em pacientes com sequela de AVE, foi apontado, uma vez que o controle do tronco é uma habilidade motora básica necessária para executar diversas tarefas funcionais, e é deficiente em pacientes que sofreram AVE (12).
Outro estudo desenvolvido por Santos et al demonstrou os benefícios da dança no equilíbrio e no risco de quedas em hemiparéticos, confirmando cientificamente que esta pode ser uma alternativa de tratamento para estes indivíduos, já que a dança estimula a mobilidade articular, motricidade, coordenação motora, ativação neuromuscular, postura e equilíbrio, que são normalmente, comprometidos após AVE. Após análise dos resultados pode-se observar que houve diminuição do deslocamento ântero-posterior e aumento do escore total da EEFB evidenciando melhora do equilíbrio estático e funcional, e houve diminuição do risco de quedas, já que foi observada diminuição do escore da FES-I-BRASIL (14).
Analisar o perfil social e funcional de usuários com AVE ratifica o grave problema de saúde pública que ele representa, principalmente pelos fatores de risco envolvidos na patogênese do evento, os indivíduos acometidos pelo AVE apresentam alterações de mobilidade, equilíbrio e controle postural, estando mais suscetíveis a eventos de quedas e tendo sua incidência diretamente proporcional ao grau de déficit funcional. Monteiro et al. observaram equilíbrio pobre em 43,5% dos avaliados, mas salientam a existência de populações com 100% dos avaliados com alto índice de quedas, que pontuaram escore baixo na EEFB (15).
A partir dos resultados aqui descritos compreende-se que há a necessidade de ambientes bem estruturados e seguros bem como desenvolver atividades eficazes a fim de promover uma melhora na qualidade de vida desses indivíduos. Com as escalas analisadas constatou-se que os fatores que influenciam causando os riscos de quedas entre os indivíduos de diferentes idades são o medo de cair, problemas cognitivos e diminuição do equilíbrio estático e dinâmico.
Analisar os instrumentos de avaliação é importante, pois pode-se identificar possíveis problemas que comprometem os envolvidos na ocorrência de quedas. Cabe salientar a necessidade de mais estudos com mais aprofundamento relacionados na questão dos riscos de quedas em indivíduos acometidos com AVE.
CONCLUSÃO
Este artigo demonstrou que há diferentes fatores que comprometem indivíduos com AVE, colocando-os em riscos de queda, dentre os instrumentos utilizados, houve uma predominância na escala de Berg, o que também associou o risco de queda a diminuição do equilíbrio na avaliação deste, bem como o medo de cair pela insegurança criada no contexto ambiental, por isso a importância de compreender esse aspecto.
REFERÊNCIAS
1. GOUVÊA, Daniele; GOMES, Caroline Souza de Paula; MELO, Suelen Cristian de. Acidente Vascular Encefálico: uma revisão da literatura. Revista Científica Multidisciplinar das Faculdades Se São, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p.3-6, 2015.
2. FARIA, Ana da Conceição Alves; MARTINS, Maria Manuela Ferreira Pereira da Silva; SCHOELLER, Soraia Dornelles. Percurso da pessoa com acidente vascular encefálico: do evento à reabilitação. Revista Brasileira Enfermagem [internet], Florianópolis, v. 70, n. 3, p.520-528, 2017.
3. COSTA, Alice Gabrielle de Sousa et al. Identificação do risco de quedas em idosos após acidente vascular encefálico. Esc Anna Nery, Fortaleza, v. 14, n. 4, p.684-689, 2010.
4. Brasil. Ministério da Saúde. Banco de Dados do Sistema Único de Saúde – DATASUS. 2011.
5. CARVALHO, Manoel Renan de Sousa et al. Cuidados de Enfermagem ao Paciente acometido por Acidente Vascular Cerebral: revisão Integrativa. Id on Line Rev.Mult. Psic., 2019, vol.13, n.44, p. 198-207. ISSN: 1981-1179.
6. RICCI, Natalia Aquaroni et al. Velocidade de marcha e autoeficácia em quedas em indivíduos com hemiparesia após Acidente Vascular Encefálico. Fisioterapia Pesquisa, São Paulo, v. 22, n. 2, p.191-196, 2015.
7. PASA, Thiana Sebben et al. Avaliação do risco e incidência de quedas em pacientes adultos hospitalizados1. Revista. Latino-am., Rio Grande do Sul, v. 25, n. 2862, p.2-8, 2017.
8. BORGES, Priscila Santos; MARINHO FILHO, Luiz Evandro Nunes; MASCARENHAS, Cláudio Henrique Meira. Correlação entre equilíbrio e ambiente domiciliar como risco de quedas em idosos com acidente vascular encefálico. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, p.41-50, 2010.
9. FARIA, Christina Danielli Coelho de Morais et al. Comparação entre indivíduos hemiparéticos com e sem histórico de quedas com base nos componentes da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v. 17, n. 3, p.242-247, 2010.
10. SANTOS, Pietro Araújo dos; VALENÇA, Tatiane Dias Casimiro; AMORIM, Camila Rego. Avaliação do equilíbrio e o risco de quedas em idosos acometidos por acidente vascular encefálico. Revista Kairós Gerontologia, São Paulo, v. 14, n. 4, p.67-77, 2011.
11. MONTEIRO, Raquel Buarque Caminha et al. Medo de cair e sua relação com a medida da independência funcional e a qualidade de vida em indivíduos após Acidente Vascular Encefálico. Ciência & Saúde Coletiva, Recife, v. 18, n. 7, p.2017-2027, 2011.
12. LACERDA, Natália Noman; GOMES, Érika Baptista; PINHEIRO, Hudson Azevedo. Efeitos da facilitação neuromuscular proprioceptiva na estabilidade postural e risco de quedas em pacientes com sequela de acidente vascular encefálico. Fisioterapia Pesquisa, Brasília, v. 20, n. 1, p.37-42, 2013.
13. SILVA, Larissa Rebola Volpi da et al. Efeitos de curto prazo de um programa de imaginação sobre o medo de queda de indivíduos pós acidente vascular encefálico. Motriz. Revista de Educação Física. Unesp, São Paulo, v. 19, n. 1, p.46-54, 2013.
14. SANTOS, Lucas Andreo Dias dos et al. Efeito da dança sênior no equilíbrio e no risco de quedas em hemiparéticos pós acidente vascular encefálico. Fisioterapia Brasil, São Paulo, v. 14, n. 1, p.56-60, 2013.
15. MEDEIROS, Candice Simões Pimenta et al,. Perfil Social e Funcional dos Usuários da Estratégia Saúde da Família com AcidenteVascular Encefálico. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, Rio Grande do Norte, Volume 21 Número 3, 2017.
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Risco de quedas em indivíduos com acidente vascular encefálico uma revisão