REVISTA CIENTÍFICA IPEDSS: A CIÊNCIA A FAVOR DA SAÚDE E SOCIEDADE

ISSN 2764-4006 Publicação online

DOI 1055703

Volume 1. Número 2.

Petrolina, 2021.

CINESIOTERAPIA NO TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DA SÍNDROME DA DOR REGIONAL COMPLEXA TIPO I

Aline de Souza Almeida 

Endereço correspondente: Aline de Souza Almeida – Recife, PE – Brazil – E-mail: aline.mithelly@gmail.com

Submissão: 24 de Setembro, 2021 – Modificação: 28 de Setembro, 2021 – Aceito: 15 de Dezembro, 2021

DOI: https://doi.org/10.55703/27644006010201

 

RESUMO

O presente estudo teve o objetivo de buscar maior número de informações e identificar as intervenções fisioterapêuticas para reabilitação das pessoas que sofrem com a síndrome da dor regional complexa tipo I. Foi realizada uma revisão da literatura no período de fevereiro a novembro de 2020. Para a coleta de dados bibliográficos foram consultadas as bases de dados eletrônicas Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), A Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Banco de Dados em Enfermagem: Bibliografia Brasileira (BDENF), utilizando os descritores: Distrofia simpático reflexa, Cinesioterapia, Dor regional complexa I, Tratamento fisioterapêutico. A cinesioterapia precoce é o tratamento de escolha da supracitada síndrome e é empregada simultaneamente a outros tratamentos fisioterapêuticos, para que venha surtir um efeito mais potente na diminuição dos sintomas dos pacientes. Os tratamentos coadjuvantes para a dor complexa regional I, tais como automassagem, termoterapia, eletroacupuntura, mobilização são utilizados.

Palavras-chave: Distrofia simpático reflexa; Cinesioterapia; Dor regional complexa I; Tratamento.

 

INTRODUÇÃO

A distrofia simpática reflexa (DSR) ou síndrome dolorosa complexa (SDCR) I tem a sua etiologia ainda pouco esclarecida e sua fisiopatologia ainda é incerta. Caracteriza-se por uma dor espontânea em queimação, edema, alterações vaso e sudomotoras, anormalidades autonômicas, alterações tróficas, especialmente em fases mais tardias, de forma muito acentuada, além de alteração da função motora (1).

A hipótese mais aceita é que se trata de uma atividade anormal do sistema nervoso simpático e começa cerca de um mês após o trauma. Inicialmente, ocasiona dor difusa, que evolui para dor neuropática e debilitante. A dor vem acompanhada de edema e ambos limitam a mobilidade devido à instabilidade articular relacionada a essas alterações. Na fase tardia, o edema e a instabilidade entram em resolução, e nesse momento, o membro atrofia e a pele se torna fina e o tecido adiposo escasso, no entanto, do ponto de vista de funcionalidade, já há um comprometimento (2).

Alguns autores defendem que os sinais e sintomas variam de acordo com o tipo, podendo ser do tipo I ou II (tipo I, é consequência de uma lesão que não afetou diretamente os nervos no membro acometido; e tipo II apresenta lesão nervosa real, na qual a dor não se limita ao território de inervação do nervo lesado) (3). As incidências bilaterais são mais raras, especialmente quando associadas aos membros inferiores (4).

O diagnóstico é feito pela história clínica, exame físico, raio- x, cintilografia óssea e estudo em placa termográfica. Há evidências de que o tratamento deve ser precoce, para estabelecer um bom prognóstico de reabilitação, e não existe um protocolo padrão ouro, sendo importante que a abordagem seja multidisciplinar pois há componentes biopsicossociais importantes nestes pacientes (5).

Anteriormente o tratamento de escolha era medicamento e repouso. Hoje em dia, em razão da nova definição de dor, há um entendimento da necessidade de exercícios como um fator para diminuição dos sintomas. Em 2020 a IASP (Associação Internacional para o Estudo da Dor) definiu dor como “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada ou semelhante àquela associada a dano real ou potencial ao tecido” (6).

A cinesioterapia apresentou grande relevância, mostrando-se como vertente necessária para o tratamento, mas ainda existe pouco aporte na literatura a respeito do quão precoce o tratamento deve ser iniciado; e se faz necessário a elaboração de trabalhos clínicos randomizados (2).

O presente estudo teve o objetivo de buscar na literatura o maior número de informações possíveis para identificar as melhores intervenções fisioterápicas para o melhor prognóstico e reabilitação das pessoas que sofrem com o problema.

MÉTODO

Foi realizada uma revisão de literatura nas bases de dados de acordo com o esquema abaixo:

Fluxograma 1 – Metodologia

Fonte: Autora, 2020.

Foi realizada uma revisão da literatura no período de fevereiro até outubro de 2020, sendo efetivado um levantamento em vários artigos que tratam do assunto.

Para a coleta de dados bibliográficos foram consultadas as bases de dados eletrônicas Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), A Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Banco de Dados em Enfermagem: Bibliografia Brasileira (BDENF), utilizando os descritores: Distrofia simpático reflexa. Cinesioterapia. Dor regional complexa I. Tratamento.

Critérios de inclusão

Os critérios de seleção para inclusão para a amostra foram: artigos completos publicados nos idiomas português e inglês, publicados no período de 2015 a 2020, artigos originais, e que respondessem à pergunta norteadora.

Foi adotado como prioridade a busca do tratamento de pacientes com Síndrome da dor regional complexa tipo I através da cinesioterapia e outras terapias.

Critérios de exclusão

Os critérios de exclusão, por sua vez, foram: indisponibilidade de recuperar a publicação na íntegra, revisões de literatura, referências excluídas por título e resumo, artigos em duplicidade e inadequação ao objeto de estudo, pacientes com outras queixas de dor.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após aplicados os critérios de inclusão e exclusão foram selecionados para o estudo 10 artigos, descritos no quadro abaixo.

Quadro 1 – Estudos selecionados e descritos pelo título, autor, ano, periódico.

  1. Autor (es)
  • Intervenção
  • Conclusão
  1. Dietz e Compton (7)
O paciente é instruído sobre um programa de massagem e mobilização autoadministrado. O diagnóstico exigia alodínia (dor ao toque leve na pele) e sinais ou história de sinais de disfunção autonômica.

Dos 26 pacientes que completaram o Pediatric Outcomes Data Collection Instrumen (PODCI) antes do tratamento, a média do escore da Pain / Comfort Core Scale foi de 20,81 (0–63). A média da pontuação da Escala de Funcionalidade Global foi de 52,11 (27–83,5). 

Oitenta e nove por cento dos 51 pacientes que compareceram à clínica até que seu resultado fosse definitivo não apresentavam dor residual ou mínima. 

O tratamento foi em média de 2,2 visitas por paciente, normalmente em um período de seis semanas.

Os autores elaboraram protocolo simples e barato, que pode ser eficaz no tratamento da  síndrome da dor  complexa regional tipo I em crianças. 

O protocolo é isento de riscos, barato para as famílias e conservador de recursos médicos e fisioterapêuticos.

  1. Collins e Gilden (8)
Tratamento de um triatleta com a Terapia Manual Funcional, resultando em um retorno aos esportes competitivos sem dor.

O indivíduo continuou a fazê-lo três anos após a intervenção.

Resultou no retorno do sujeito à corrida competitiva e a todas as atividades funcionais sem dor.
  1. Rome (9)
Trinta pacientes foram submetidos a fisioterapia e trinta a fisioterapia + reabilitação. Foi administrado a eles o questionário “Avaliação de hábitos de vida” (v.3.0 LIFE-H).  Os pacientes que receberam fisioterapia + reabilitação tiveram em média 10% melhor na função de vestir e despir, 25% melhor no preparo das refeições e 20% melhorando, assim, a qualidade de vida.
  1. Teixeira  e Reis (4)
Foi utilizado um plano de tratamento da paciente com técnicas de fisioterapia (estimulação elétrica transcutânea (TENS), eletroterapia e termoterapia), foi aplicada a cinesioterapia para punho e mão direita, através de alongamento ativo assistido, exercício de circundação sob imersão em água aquecida, movimentos de pinça, pronação e supinação, oponência dos dedos com resistência, fortalecimento em preensão palmar e exercícios proprioceptivos.  Houve uma melhora dos sintomas dos pacientes, propiciando uma melhor qualidade de vida. 
  1. Den Holander et al (10)
Quarenta e seis pacientes foram randomizados e trinta e oito completaram o estudo. Ao longo de 6 meses foi comparado o custo efetividade do EXP (um tratamento cognitivo-comportamental direcionado ao medo relacionado à dor) x PPT de uma perspectiva social. Os principais resultados foram mudanças na escala do componente físico SF-36 e anos de vida ajustados pela qualidade.  
  1. Bianchi das Neves et al (1)
Paciente foi submetido a um tratamento multidisciplinar associado ao bloqueio anestésico do gânglio estrelado. O resultado foi satisfatório, se mostrando muito eficaz.
  1. Oh et al (11)
O paciente foi submetido a exercício passivo de movimento no membro superior direito sob sedação por 30 minutos, o que foi relativamente mais fácil devido à diminuição da dor. Após 2 dias de exercício passivo de movimento sob sedação, o paciente foi capaz de receber exercícios passivos de movimento duas vezes ao dia sem sedação por 18 dias. Este caso sugere que o exercício passivo de movimento sob sedação pode ser uma alternativa bem-sucedida como tratamento nesses casos.
  1. Bellon et al (12)
Foi relatado um caso de síndrome dolorosa complexa regional I tratada com injeção intra-articular de BTX-A. Esses achados apoiam um possível papel antinociceptivo do BTX-A no tratamento da dor  complexa  regional 1 relacionada à inibição da liberação de neurotransmissores da dor.
  1. Geet et al (13)
Um homem de 48 anos com diagnóstico de CRPS-I após luxação traumática da cabeça do rádio foi tratado com um plano estruturado durante um período de 9 meses com uma terapia combinada que incluía técnicas de Liberação Miofascial (MFR), Agulha seca guiada por ultrassom (USGDN) e tratamento de fisioterapia convencional.  A intervenção combinada mostrou diminuição da dor, melhora da amplitude de movimento e melhores escores na escala de deficiências do braço, ombro e mão (DASH). A combinação de MFR e USGDN pode ser potencialmente usada como uma estratégia de tratamento no  manejo de pessoas com SDCR-1.
  1. Costa et al (14)
Foi realizado um acompanhamento fisioterapêutico e terapêutico ocupacional com as pacientes utilizando o programa de tratamento Stress loading durante seis semanas. As pacientes obtiveram melhoras no escore do DASH e a EVA depois das intervenções terapêuticas.

Fonte: Sistematização da autora (2020).

A Síndrome Dolorosa Complexa Regional (SDCR) I: os tratamentos para alívio da dor

A Síndrome Dolorosa Complexa Regional (SDCR) I é caracterizada como um quadro doloroso, surgindo de um estímulo nocivo, ainda que mínimo, que pode incapacitar ou comprometer a qualidade de vida do paciente, caso seja a dor muito intensa, necessitando, desse modo, de uma intervenção fisioterapêutica com associações, como técnicas de Liberação Miofascial (MFR), Agulha seca guiada por ultrassom (USGDN) e tratamento de fisioterapia convencional (13).

Colins e Gilden (8) afirmaram que a fisioterapia manual é eficaz para o alívio da dor. No entanto, para que o tratamento seja mais eficaz, é preciso que o tratamento da SDCR I seja efetivado de forma multidisciplinar, contando com o auxílio médico, fisioterapêutico e psicológico, para que o paciente possa ter um alívio dos sintomas de forma holística (1).

A fisioterapia associada à reabilitação pode produzir efeitos mais potentes contra a SDCR tipo 1 (9). Bellon e cols (12) sugeriram a injeção intra-articular da toxina botulínica tipo A (BTX-A) para o alívio da dor. Também foi sugerido no tratamento da dor regional complexa I a automassagem e mobilização, sendo um protocolo econômico, restando a educação como um condutor para este tipo de tratamento (7). Portanto, essas técnicas podem ser usadas de forma associada, buscando-se também auxílio de outros profissionais.

Qualidade de vida

A cinesioterapia é um coadjuvante dos tratamentos para a síndrome dolorosa complexa regional I, devendo ser usado com outras técnicas fisioterapêuticas como o TENS, a eletroterapia e a termoterapia, dentre outros, para que venha a surtir o efeito exitoso (4).

Para Costa e cols (14), a técnica Stress Loading pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes com o melhoramento dos escores do DASH e EVA, após as intervenções fisioterapêuticas.

Segundo Den Holander e cols (10), é possível ter uma significativa melhoria da qualidade de vida, com mudanças na escala de componente físico SF-36 por meio da fisioterapia e aplicação de EXP.

Oh e cols (11) afirmaram que a atividade de exercício passivo sob sedação pode aliviar a dor, melhorando a convivência do paciente dentro das suas atividades cotidianas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Síndrome Dolorosa Complexa Regional I pode incapacitar os pacientes caso chegue a um nível que ultrapasse a capacidade de resiliência, e portanto, deve ser tratada de forma fisioterapêutica para que os sintomas sejam amenizados e não comprometa as suas atividades cotidianas, laborais e de lazer.

A cinesioterapia tem mostrado resultados quando aplicada junto a outras técnicas fisioterapêuticas, tais como eletroterapia, automassagem, eletroacupuntura, mobilização e termoterapia, por exemplo, aliviando os sintomas dolorosos dos pacientes.

É preciso que o tratamento da SDCR I seja realizado de forma a incluir demais profissionais como médicos e psicólogos para que possam atender aos pacientes de forma holística, levando em consideração a questão da dor e sua cura em amplos aspectos.

Sugere-se que outros estudos sejam efetivados com uma maior amostra de pacientes, especialmente no caso da intervenção com a cinesioterapia. É importante também, que mesmo diante da literatura acerca do tratamento da síndrome dolorosa complexa regional I, seja avaliado de forma individualizada o paciente, levando em consideração os fatores do ambiente. 

 

 

REFERÊNCIAS

1. Bianchi das Neves BM, Veríssimo Tom PR, Santa Rosa LE.Síndrome dolorosa complexa regional tipo 1 – relato de caso. Revista Uningá. [acesso em 16 out. 2020] Set. 2018; 55(3): 35-40, ISSN 2318-0579. Disponível em: Link. Acesso em: 16 out. 2020.

2. Moussa L, Dos Santos CA, Cordeiro DF, Gonçalves GL. Intervenção fisioterapêutica na síndrome dolorosa complexa regional. Revista Científica Interdisciplinar. Abril/Junho 2016; 2(3): 2358-8411. ISSN: 2358-8411.

3. Bortagaray S et al. Métodos de diagnóstico e tratamento da síndrome da dor regional complexa: uma revisão integrativa da literatura. BrJP. São Paulo, Dec. 2019; 2(4):362-367.

4. Teixeira ACM, Reis JC. Intervenção fisioterapêutica na distrofia simpática reflexa. Revista de Ciências. 2017; 8(1) 1.

5. Souza LM. Distrofia simpática reflexa: revertendo essa síndrome. Revista científica multidisciplinar núcleo do conhecimento. 2019; 6(6): 114-128.

6. Raja et al. The revised International Association for the Study of Pain definition of pain: concepts, challenges, and compromises. Pain. Set. 2020; 161(9):1976-1982. doi: 10.1097/j.pain.0000000000001939

7. Dietz FR, Compton SP. Outcomes of a Simple Treatment for Complex Regional Pain Syndrome Type I in Children. Iowa Orthop J. 2015; 35:175–180.

8. Collins CK, Gilden B. A non-operative approach to the management of chronic exertional compartment syndrome in a triathlete: a case report. International journal of sports physical therapy. 2016; 11(7): 1160–1176.

9. Rome L. The place of occupational therapy in rehabilitation strategies of complex regional pain syndrome: Comparative study of 60 cases. Hand Surgery and Rehabilitation. Out. 2016; 5(5): 355-362,

10. De Hollander et al. Exposure in vivo versus pain-contingent physical therapy in complex regional pain syndrome type i: a cost-effectiveness analysis. Cambridge University Press. 2018; 34(4): 400-409.

11. Oh HM, Kim CM, Kim AR. Dramatic effect in passive ROM exercise under sedation in a patient with intractable complex regional pain syndrome (type I): A case report. Medicine. 2019; 98,(13). e14990.

12. Bellon G et al. Intra-articular botulinum toxin injection in complex regional pain syndrome: Case report and review of the literature, Toxicon. 2019; 159(1): 41-44.

13. Geet D. Myofascial Release Technique and Ultrasound Guided Dry Needling in Management of Complex Regional Pain Syndrome Type 1: A Case Report, Physiotherapy School and Centre, Seth G. S. Medical College,King Edwards Medical University,India. 2019; 5(6).

14. Costa T, Duarte BSL, Ferreira TG, Ponte AS, Delboni MCC. O uso do programa de tratamento Stress Loading no tratamento da síndrome complexa de dor regional de tipo I. Revista Saúde (Sta. Maria). 2020; 46 (2).

 

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