REVISTA CIENTÍFICA IPEDSS: A CIÊNCIA A FAVOR DA SAÚDE E SOCIEDADE
ISSN 2764-4006
DOI 1055703
Volume 2. Número 3.
Petrolina, 2022.
ALEITAMENTO MATERNO NA PRIMEIRA HORA DE VIDA: FATORES QUE INFLUENCIAM O SUCESSO
Danielle Cristine Alves Ferreira da Silva1, Luanna Alves Silveira de Holanda2, Bianca Magalhães Santos Rocha Castro3, Henrique Silva Pinheiro4, Renato Soares de Lima5 e Tássia Cristina Carneiro Franco6
Endereço correspondente: Danielle Cristine Alves Ferreira da Silva – Jaboatão dos Guararapes – PE – Brazil – E-mail: danielecris1@hotmail.com
Submissão: 07 de Setembro, 2022 – Modificação: 8 de Setembro – Aceito: 28 de Setembro, 2022
DOI: https://doi.org/10.55703/27644006020305
RESUMO
O estudo teve como objetivo identificar fatores influentes no sucesso do aleitamento materno na hora dourada. Foi realizada uma revisão de literatura com abordagem qualitativa considerando publicações dos últimos cinco anos nas bases: Scientific Electronic Library Online, Biblioteca Virtual em Saúde e Google Acadêmico, com os descritores: “aleitamento materno and assistência de enfermagem and precoce”. Seis artigos foram selecionados para o estudo, mostrando que o contato pele a pele, a presença do profissional de enfermagem na sala de parto e o tipo de parto, foram os principais fatores associados ao sucesso do aleitamento precoce. Constatou-se que o aleitamento materno na primeira hora de vida traz benefícios tanto para o recém-nascido quanto para a mãe e por isso deve ser orientado e estimulado em todos os partos que forem possíveis a sua realização. O estudo aponta que dentro dos objetivos estimados os resultados foram correspondidos.
Palavras-chave: Aleitamento Materno; Assistência de Enfermagem; Precoce.
INTRODUÇÃO
O leite materno é suficiente para prover todos os nutrientes necessários ao lactente até os seis meses de vida, incluindo propriedades imunológicas que o protegem de doenças recorrentes da infância, como diarreia e pneumonia, importantes causas de morbimortalidade infantil (1).
O parto é o momento da transição para a vida extrauterina e isso envolve uma série de mudanças fisiológicas no bebê. Diante disso, o atendimento ao recém-nascido (RN) na sala de parto requer o mínimo de interferências possíveis e, quando necessário, a adoção de cuidados que auxiliem a adaptação à vida extrauterina, a partir da fisiologia do trabalho de parto, utilizando tecnologias de cuidado humanizado que proporcionem conforto e segurança para o desenvolvimento da saúde imediata e futura da criança (2).
A amamentação, ainda na sala de parto, traz muitos benefícios para o RN e para a mãe, entre eles uma melhor adaptação da vida extrauterina, a regulação glicêmica, cardiorrespiratória e térmica do RN, redução do desmame precoce, além aumentar a satisfação na amamentação por parte da parturiente (1). Para as mães, a sucção precoce estimula a hipófise na produção de ocitocina e prolactina, aumentando a produção de leite pelo organismo e auxiliando na contração uterina. Um estudo realizado com 10.947 lactentes mostrou que o leite materno, no primeiro dia de vida, evitou 16% das mortes neonatais, podendo, essa taxa, chegar a 22% se a amamentação for antecipada para a primeira hora após o parto (3).
O contato pele a pele é um fator significativo para uma efetiva amamentação na primeira hora de vida que, por sua vez, proporciona aos RN benefícios imunológicos e psicossociais ocasionados através do fortalecimento do vínculo materno-infantil. Por outro lado, a separação mãe-bebê pode levar a efeitos fisiológicos indesejáveis no RN, como aumento dos níveis de estresse e do choro, além de dificultar a amamentação eficaz impactando na duração da lactação. Uma meta-análise evidenciou que recém-nascidos que iniciaram a amamentação entre duas e vinte e três horas após o nascimento possuíram um risco 33% maior de morrer do que aqueles que começaram dentro de uma hora de vida, ademais, dentre os que iniciaram depois de um dia ou mais, esse risco mais do que dobrou (4).
O bebê que não apresentar necessidade de intervenções para manter os parâmetros normais deve ser colocado junto à sua mãe em contato pele a pele na primeira hora de vida, conhecida como hora dourada, com o intuito de diminuir o estresse e a dor para o bebê, reduzir a taxa de infecção hospitalar e favorecer a alta precoce. Este contato influencia de forma positiva nas variáveis respiratórias, na melhora do controle térmico, consequentemente no aumento da saturação periférica de oxigênio, e na estabilização dos parâmetros cardíacos, além de facilitar a colonização do bebê pela flora da pele de sua mãe (5).
Quanto à atuação profissional, as diretrizes de humanização do parto definem-se por um conjunto de condutas com o objetivo de promover o parto humanizado e nascimento saudável, respeitando a mulher e o recém-nascido, e sempre que possível com práticas não intervencionistas. Assim, no que diz respeito à primeira hora de vida do recém-nascido logo após o parto, considerada a hora dourada, é preciso estimular a formação do vínculo entre mãe e bebê (2).
A atualização e a capacitação de toda equipe multiprofissional envolvida no contexto do parto devem ser incentivadas, tendo como foco não apenas o domínio da técnica como também o incentivo ao diálogo com as nutrizes. Sendo assim, dá-se lugar para práticas humanizadoras supracitadas. Para que haja esse engajamento por parte equipe multiprofissional na prática de aleitamento materno e contato pele a pele, deve haver uma mudança de atitude, de integração e vínculo com o binômio mãe-recém-nascido. Essa postura deve ser também incentivada pela gestão hospitalar, por meio de recursos humanos e propostas de desenvolvimento profissional (6).
Por conseguinte, todos os profissionais que atuam na sala de parto são responsáveis por promover a amamentação precoce, dentre eles, o profissional de enfermagem. A esse profissional cabe o papel de facilitador nesse processo, especialmente, ao fornecer informações e auxiliar no manejo da lactação na sala de parto. O enfermeiro será o estimulador dos demais profissionais de saúde presentes na assistência ao parto, no tocante à sensibilização, informação e integração destes ao programa de incentivo, promoção e apoio à amamentação na primeira hora de vida. Para que esse objetivo seja alcançado é necessária uma base de conhecimento científico, habilidade técnica e comunicação em conjunto (3).
Tendo em vista a relevância do aleitamento materno na primeira hora de vida na promoção do mesmo exclusivamente até os seis meses de vida, as baixas taxas de aplicação dessa prática no Brasil e no mundo e a necessidade de incentivo por parte dos profissionais em sala de parto, o presente estudo tem como objetivo identificar os fatores que influenciam no sucesso ao estímulo do aleitamento materno na hora dourada.
METODOLOGIA
Este estudo se deu por revisão de literatura que investigou trabalhos sobre os fatores que influenciam no sucesso do estímulo ao aleitamento materno na hora dourada. Foram analisadas publicações indexadas nas bases de dados Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), consultadas por meio do BVS; Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO), Banco de Dados de Enfermagem (BDENF). Os Descritores Controlados em Ciência e Saúde (DeCS) utilizados foram: Assistência de enfermagem and aleitamento materno and precoce. A busca foi realizada no período de fevereiro de 2022.
Os critérios de inclusão foram: período de publicação de cinco anos (2017-2022), disponíveis na íntegra, com os idiomas português, inglês e espanhol e títulos que abordassem a temática do estudo.
Os critérios de exclusão foram: tipos de estudo (estudo de casos, teses e dissertações), fora do período temporal, em duplicidade e títulos fora da temática.
RESULTADOS
No total foram encontradas 96 publicações científicas, sendo 7 na SCIELO, 43 na BDENF, 30 na Medline e 16 na Lilacs. Na triagem foram descartados 71 sendo utilizados os critérios de idioma, título, tipo de estudo e duplicidade. Na fase seguinte de elegibilidade foram lidos 25 resumos, dos quais 10 foram descartados por não condizerem com o tema abordado. Foi realizada a leitura na íntegra de 15 artigos, dos quais 9 foram descartados pela irrelevância e/ou não tratavam diretamente do tema e 6 foram selecionados para a inclusão na revisão.
Figura 1 – Fluxograma para identificação e seleção dos estudos, com base na recomendação
Analisando os 6 artigos selecionados para esta revisão de literatura, nota-se o uso distinto de tipos de pesquisa. Como forma de deixar a amostra utilizada sistematizada e organizada, estes estudos foram detalhados.
O quadro 1, distribui os estudos de acordo com os resultados voltados à oferta de leite materno na primeira hora de vida. Mesmo sendo estudos distintos, foi possível absorver dados importantes que serão discutidos a seguir.
Quadro 1 – Demonstrativo dos artigos que integram a revisão de literatura segundo as características autor/ano, cidade/país, metodologia e os principais resultados.
Todos os estudos foram publicados em revistas nacionais, e em relação ao idioma teve a prevalência do português (n=6; 100%). O ano 2020 se destacou com a prevalência das publicações (n = 4; 66,7%), seguido de 2018 e 2021 com 1 artigo cada (n=1; 16,7%). Em relação à origem, o Brasil prevaleceu com seis (n = 6; 100%) dos estudos publicados nos estados de Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Em relação ao tipo de estudo, cinco deles são do tipo transversal ( n= 5; 83,3%) e um do tipo revisão integrativa (n=1; 16,7%), sendo 83,3%, n=5 em abordagem quantitativa e 16,7%, n=1 qualitativa.
Os autores abordam temas distintos para discorrer sobre a importância do aleitamento materno na primeira hora de vida, LEDO et al. (2021) avaliaram as práticas assistenciais realizadas na sala de parto e observaram que apenas 28% dos RN entraram em contato pele a pele e foram levados ao seio materno logo após o parto. Esse contato precoce com o seio materno esteve associado ao tipo de parto (p=0,043) e às alterações no exame físico (p=0,001).
RODRIGUES et al. (2020) adotaram a correlação da dificuldade do aleitamento precoce e as práticas assistenciais. Chegando ao resultado de dois principais motivos pelos quais ocorrem dificuldades em promover o aleitamento materno em ambiente de parto, 68% (n= 24) apontadas pela falta de tempo e 32% (n=11) referentes a atrasos nos procedimentos de rotina, como medidas antropométricas e medicação.
SILVA et al. (2018) observaram fatores que influenciam a prática do aleitamento precoce e taxa de amamentação. A taxa de amamentação na primeira hora de vida foi de 28,7% e os fatores relevantes foram, o tipo de parto vaginal (p 0,009), a presença do enfermeiro como profissional que presta assistência ao parto (p 0,001), o contato pele a pele entre mãe e filho (p 0,001) e o clampeamento tardio do cordão umbilical (p 0,011).
SILVA et al. (2020) observaram a prática assistencial do aleitamento precoce na sala de parto. Chegando a conclusão de que a maioria dos recém-nascidos foram colocados para amamentar dentro da primeira meia hora de vida, mesmo não tendo contato pele a pele em ambos os tipos de parto, só modificou o local de oferta.
TERRA et al. (2020) observaram os fatores que favorecem o aleitamento precoce. Chegando a conclusão que mulheres que tiveram parto vaginal são mais propensas a iniciar a amamentação na primeira hora, além do contato pele a pele.
WEBER, CORDEIRO, CAVALCANTI (2020) observaram os fatores que influenciam negativamente no aleitamento precoce. Chegando a conclusão que 99,18% dos RN não mamaram na primeira hora de vida. Evidenciou-se que o parto cesáreo (6,60%), desconforto respiratório (28,30%) e outras intercorrências relacionadas à mãe-bebê (65,09%) foram fatores relevantes que influenciaram negativamente na amamentação.
DISCUSSÃO
O sucesso do aleitamento materno deve ser analisado de forma global e observar diversos parâmetros como: cultura, conhecimento sobre o assunto, rede de apoio, dentre outros. Apesar da amamentação na hora dourada significar um indicador de excelência de uma unidade neonatal, sendo um fator protetivo para a sobrevivência e desenvolvimento das crianças nos primeiros meses de vida, permanece sendo uma meta recente, sendo compreensível a ausência de resultados esperados no sentido de alto índice da prática do procedimento (6).
Em um estudo do tipo revisão integrativa, TERRA et al. (2020) observaram e concordaram com LEDO, et al, (2021) e SILVA, et al, (2018) que o tipo de parto, a presença de um profissional de enfermagem na sala de parto, e o contato pele a pele, influenciaram no incentivo à amamentação na hora dourada.
Em um estudo do tipo transversal, RODRIGUES et al. (2020) observaram e concordaram com WEBER, CORDEIRO, CAVALCANTI, (2020), que o tipo de parto (cesáreo), intercorrências com o binômio, falta de tempo para execução dos demais procedimentos como medidas antropométricas, foram fatores que influenciaram na iniciativa da prática do aleitamento precoce.
Em um estudo do tipo transversal SILVA et al. (2020), chegaram a conclusão que contraria a de WEBER, CORDEIRO, CAVALCANTI, (2020), relatando que a maioria dos RN, foram submetidos ao aleitamento precoce, sendo o tipo de parto um fator irrelevante.
Confrontando o objetivo do artigo, os resultados mostraram que o contato pele a pele, tipo de parto e práticas assistenciais devidas foram fundamentais para a prática do aleitamento na primeira hora de vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É notório que o aleitamento materno na primeira hora de vida traz benefícios tanto para o recém-nascido quanto para a mãe e por isso deve ser orientada e estimulada em todos os partos que forem possíveis a sua realização.
O estudo aponta que dentro dos objetivos estimados os resultados foram correspondidos, sendo evidenciado a correlação do contato pele a pele do binômio, o tipo de parto e a presença de um profissional enfermeiro na assistência como fatores relevantes para o sucesso do aleitamento na hora dourada, porém, também evidenciou a deficiência destas práticas por diversos profissionais nas salas de parto. O contato pele a pele demanda tempo e trabalho da equipe e gera um custo que não é valorizado, sendo necessário difundir esses benefícios para melhor adesão das equipes e uma atualização da conduta. Isso aponta a necessidade de mais estudos e capacitação dos profissionais sobre o tema.
REFERÊNCIAS
1. Silva M. M.; Pereira S. S.; Gomes-Sponholz F. A.; Monteiro J. C. S. Fatores que implicam no processo do contato precoce e aleitamento materno na sala de parto. Cad Saúde Coletiva, 2020; 28(4):529-536. DOI: https://doi.org/10.1590/1414- 462X202028040409.
2. Ledo, B. C., Góes, F. G. B., Santos, A. S. T., Pereira-Ávila, F. M. V., Silva, A. C. S. S., Bastos, M. P. C. Fatores associados às práticas assistenciais ao recém-nascido na sala de parto. Esc Anna Nery 2021;25(1):e20200102. DOI: https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0102 Disponível em: https://www.scielo.br/j/ean/a/Ky5RBYkyMTCFL5CWtXmQQrn/?lang=pt. Acesso em 10 jan. 2022.
3. Silva, J. L. P., Linhares, F. M. P., Barros, A. A., Souza, A. G., Alves, D. S., Andrade, P. O. N. Fatores associados ao aleitamento materno na primeira hora e vida em um hospital amigo da criança. Texto Contexto Enfermagem, 2018;27(4):e4190017. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-07072018004190017.
4. Terra, N. O., Góes, F. G., Souza, N. A., Ledo, B. C., Campos, B. L., Barcellos, T. M. T. Fatores intervenientes na adesão à amamentação na primeira hora de vida: revisão integrativa. Rev. Eletr. Enferm. [Internet]. 2020; 22:62254. DOI: https://doi.org/10.5216/ree.v22.62254. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/fen/article/view/62254. Acesso em: 10 jan. 2022
5. Weber, C; Cordeiro, K. G. B.; Cavalcanti, S. H. Separação mãe-bebê na sala de parto: fatores que influenciam negativamente na amamentação em uma maternidade do Recife. 2020. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Enfermagem) – Faculdade Pernambucana de Saúde., Recife, 2020. Disponível em: http://tcc.fps.edu.br:80/jspui/handle/fpsrepo/928. Acesso em: 10 jan. 2022.
6. Rodrigues, C. F.; Poblete, M.; Lipinski, J.; Zamberlan, C. Práticas atuais de amamentação na primeira hora de vida em uma maternidade de risco habitual. REVISTA ELETRÔNICA ACERVO SAÚDE, v. 12, n. 1, p. e1826, 6 jan. 2020. DOI: https://doi.org/10.25248/reas.e1826.2020. Disponível em: https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/1826. Acesso em 10 jan. 2022.
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